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Ciranda de Pedra

Um dos maiores medos do ser humano é o sentimento de abandono. Seja pela família, pelos amigos, pelos companheiros amorosos, pelos colegas da escola, da faculdade ou do trabalho, todo mundo teme ser ignorado.

Ciranda de Pedra, da Lygia Fagundes Telles, é sobre essa solidão tão dolorida para uma criança, ao ponto de refletir em seu desabrochar para a vida adulta. Quando nos sentimos sozinhos, acabamos por nos agarrar à nossa própria imaginação. Porém, o mundo torna-se nosso maior inimigo e a indignação passa a ser um lugar confortável.

A vida de Virgínia, a protagonista, sofre uma mudança drástica após a separação dos pais. A partir daí, o cenário de abandono molda a maneira como ela enxerga a realidade.

A narração expõe a consciência de Virgínia, enquanto os outros personagens parecem superficiais e distantes. É preciso entender que é o ponto de vista da jovem. No entanto, mesmo com a construção da verdade através do imaginário da protagonista, o leitor deve ficar atento ao que é contado nas entrelinhas. E nisso Lygia é mestre.

É um livro intimista, escrito com um olhar profundo e inteligente sobre a natureza humana e suas relações. De forma muito sutil e sem perder a elegância, é também corajoso por abordar temas como adultério, violência verbal, divórcio, eutanásia, impotência sexual, racismo e o uso do sexo como anestésico em plenos anos cinquenta.

Não é difícil entender porque, em 1954, Lygia Fagundes Telles alcançou o posto de escritora madura e respeitada com essa obra fascinante.